2020 e a gratidão

[:pt-br]A gratidão ao ano de 2020 é pela fé renovada e a todos e todas que atravessaram conosco a tempestade e seguem, plantando sementes. Que em 2021 floresçamos no amor, na solidariedade e na esperança![:]

Por Padre Vilson Groh

Quase posso ouvir as interjeições contrariadas, imaginando a reação de muitas e muitos que me acompanham, ao lerem o título acima. Garanto aos amigos que não é um devaneio. A Covid que me pegou recentemente deixou algumas marcas, mas não parece ter a afetação das ideias como um dos efeitos colaterais. Também não há da minha parte apreço pelas penitências severas como caminho de redenção para os pecados da humanidade. Sinto que  a vida me fez um confessor fiel ao acolhimento. Tampouco o título é algum tipo de provocação ao leitor, porque seria indigna diante de tanta dor e de tantas perdas que marcaram esse ano avassalador em todo o mundo. Apenas no Brasil estamos chegando a terrível marca de 200 mil irmãos que perderam a vida, vítimas da pandemia. Milhões de pessoas perderam seus familiares. A frase que junta no título a palavra “gratidão” e o ano em que vivemos tudo isso, vos digo, traduz um sentimento claro e potente que transborda em mim nesta virada do ano. Sentimento que gostaria imensamente de dividir com vocês, começando lá do início.

Como para o resto do mundo o ano de 2020 trouxe para o IVG enormes desafios. Saímos de 2019 com a missão e as responsabilidades ampliadas, chegando a mais de 6.500 crianças e jovens atendidos pelos programas das oito entidades, com seus mais de 350 educadores e colaboradores. A suspensão imediata de todos os programas, a partir da chegada da pandemia no início de 2020, fez explodir uma bomba num campo fragilizado com a crise econômica que já vivíamos. Crianças e jovens ficaram repentinamente sem aulas, sem recursos materiais para a educação online e sem a alimentação garantida nas escolas e projetos. Instalamos então duas frentes de emergência, uma ligada à questão sanitária e epidemiológica e uma ligada à renda das famílias. Essa última a partir de uma grave e imediata consequência que foi a crise alimentar que atingiu milhares de pessoas nas nossas comunidades. O trabalho diuturno que começou para atender as famílias da rede IVG, já nos primeiros dias foi ampliado para auxiliar as periferias de Florianópolis e das cidades vizinhas em conjunto com outras instituições públicas ou do terceiro setor. Forças-tarefa comunitárias para informação e prevenção da Covid, confecção e distribuição de máscaras, cobrança às autoridades por estratégias específicas para as comunidades mais vulneráveis, doação de alimentos direto dos produtores rurais, criação de cozinhas comunitárias, produção e distribuição de refeições, campanhas permanentes de doação de recursos para cestas básicas de alimentos e de higiene, criação de uma moeda social em parceria com o Instituto Comunitário de Florianópolis, fóruns permanentes para construção e aperfeiçoamento dessas estratégias de enfrentamento e muitas outras frentes de trabalho.

Também através de uma série de artigos publicados ao longo do ano, tentamos trazer para sociedade de uma forma mais ampla a consciência sobre esses problemas, a sensibilização para o sentimento comunitário e a importância da participação de todos na construção de modelos de cidades mais solidárias e consequentes com seus próprios futuros. Num deles, chamado Florescer Comunitário, que reencaminho abaixo, tentamos extrair destas décadas vivendo e trabalhando em áreas periféricas, um conceito que pretende ser uma proposta de ação para esse futuro incerto. Nesse mesmo artigo, evoquei São Tomé para confessar meu ceticismo, ou minha fé precavida, em relação à certeza de muitos de que a humanidade evoluiria em seus aspectos mais coletivos e solidários, a partir dos enormes impactos da pandemia. Muitos que me leem neste momento sabem que minha vida nessas áreas mais empobrecidas da Grande Florianópolis entrelaça dois papéis numa mesma missão, um papel religioso, espiritual e outro social, dentro do IVG. Nos quarenta anos dessa missão, há muito complemento e harmonia entre esses papéis. Mas sustentar a fé pretensamente inabalável de um padre muitas vezes foi desafiador para o gestor de uma entidade que depende tanto da sociedade, principalmente da sua porção com mais poder econômico e político. E aí, finalmente, chegamos à questão-título.

Os momentos da vida em que experimentamos uma renovação ou confirmação da fé, em Deus, no amor, na humanidade, são talvez os de maior emoção e catarse, os de maior sentido místico e existencial. E isso o duríssimo 2020 me trouxe. Ainda que tímido para o tamanho dos problemas econômicos e sociais que enfrentamos, o florescimento da solidariedade coletiva que vivenciamos esse ano não pode nos dar nada menos do que a mais bela das esperanças. Agradecemos a todos indistintamente, às instituições públicas, privadas e do terceiro setor que caminharam conosco, aos bravos guerreiros da Rede IVG e aos empresários – os parceiros de sempre e os circunstanciais. Mas sinto que a beleza maior foi conseguir, através das redes de solidariedade, encontrar a cidadã e o cidadão comum. Aqueles que mesmo enfrentando seus próprios problemas sabem, pela vida com pés fincados na realidade das coisas, que o engajamento e o trabalho social não podem ser uma catarse solidária de um dia ou de um gesto único, que a transformação vem do compromisso, da permanência e da construção diária. O trabalho voluntário e apaixonado nas várias frentes e as doações modestas mas contínuas, durante todo o ano, foram o combustível e o motor do pequeno milagre que conseguimos operar em 2020. Ficou claro que podemos ir muito mais longe na construção desse futuro mais solidário e mais justo. E “mais longe” significa transformarmos as cidades que um dia poderemos oferecer ao mundo como exemplos de combate estrutural a uma desigualdade que só faz crescer.

A gratidão ao ano de 2020 é portanto a profunda gratidão pela fé renovada,  a gratidão às mulheres, aos homens e aos jovens que atravessaram conosco a tempestade e seguem, plantando sementes.

Que em 2021 floresçamos no amor, na solidariedade e na esperança!

Nosso 2020 em números:

Fundo Apoio as Famílias Empobrecidas REDE IVG COVID19

  • 1.745 famílias atendidas na Grande Florianópolis
  • 12.794 cestas básicas, máscaras e kits de higiene e limpeza
  • 179.116kg de alimentos distribuídos
  • 612 famílias utilizando a moeda social em 5 bairros (parceria ICOM)

Total de recursos investidos: R$ 823.832,94

O Florescer Comunitário: https://www.redeivg.org.br/noticias/o-florescimento-comunitario/

Mais informações:
Lucieni Braun (Gerência Executiva): lbraun@redeivg.org.br / (48) 3039-1828
Lucano Brito (Comunicação e Marketing): lucano@redeivg.org.br / (48) 99109-3918
Adriana Laffin (Assessoria de Imprensa): adriana@apoiocomunicacao.com.br / (48) 99998-7675

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